Esses dias elas parecem ter começado a desaparecer – e rápido –, mas, pra mim, sempre vão estar lá. Nesses tempos de frio, eu puxo a manga do casaco para escrever melhor, olho pro lado e penso “o que foi que eu fiz?”. Dou uma boa olhada em todas elas ao redor do antebraço direito... são muitas e isso não me deixa esquecer do dia em que elas apareceram, feridas rasas ainda recém abertas e bem mais profundas na minha alma.
A verdade, acho, é que não quero que elas desapareçam, apesar de saber que é preciso – e natural. Toda vez que as olho, sinto a dor daquele dia, que, de certa forma, me conforta. É a hora em que consigo chorar. Dói tanto, que eu não tenho como conter, então jorra tudo em lágrimas.
“Ela tem de pagar.”
Sei que não é o pensamento que eu deveria ter e que raiva, rancor e vingança são os principais sentimentos que puxam a minha essência pro limbo, mas ainda estou num processo de evolução, não é!? E, no momento, é o que sinto.
E sinto ainda mais o fato dela não sentir a minha dor. Me rasga por dentro ela não ter dimensão do estrago que fez em mim. São os sorrisos que não consigo dar, é o prazer que não consigo sentir, a comunicação mais primária que trava só no pensar e toda uma vida que eu sinto roubada. Ela não sente... nem uma gota. E, de verdade, se eu pudesse a faria sentir, nem que fosse por alguns segundos, e isso já satisfaria esse cão faminto e raivoso dentro de mim.
É algo que eu vou ter de trabalhar sozinha... esse desapego da dor... e do rancor. É que são anos... toda uma vida vivendo assim; engolindo calada, guardando em silêncio. Não se pega tudo isso e simplesmente regogita-se, chutando pro lado tudo de ruim. Não... faz parte do que eu sou. Deixar isso livre, não sentir mais o passado desta forma é que é a questão. E estou longe disso...
Por enquanto, tudo está em processo de cicatrização. E é só o que tenho...
0 comentários:
Postar um comentário