domingo, 13 de novembro de 2011
Daquelas formas de amor
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Aquele beijo
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
Oração familiar
Eu peço saúde, minha Deusa, para nós duas. Muita saúde.
Que é para não precisarmos de auxílio uma da outra.
Seria humilhante...
Peço, portanto, gente por perto. Gente que se importe conosco. Para não mais pensar no passado comum. Para que nossas mentes se ocupem tanto do presente, dos planos futuros e do passado recente que não haja tempo para pensar em dor.
Peço, minha Deusa, minha Mãe, querida Oxum, que possamos breve sair uma da vida da outra pela porta da frente, cabeça erguida, batendo a porta... sem precisar voltar.
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
Tenho tido sonhos estranhos..
E eu acordei.
domingo, 11 de setembro de 2011
sábado, 10 de setembro de 2011
cadê o glamour e a riqueza? cadê o bolo?
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
porque sou amena, porque sou ruim
porque não consigo me olhar no espelho
eu sou espectro e fico vermelho
isso eu sei, é errado, isso é pecado
não permita que eu seja castigado
me perdoa meus apegos e minha falta de auto-estima
eu sou desprotegida porque sou menina
ninguém pode me ver... chorar
terça-feira, 30 de agosto de 2011
E talvez meu grande erro tenho sido baixar a guarda, eliminar todas as barreiras e me mostrar assim... tão nua. Com cada mínimo detalhe à mostra, com cada mínimo defeito sob uma lupa. E eu ainda dizendo "Vem, pode olhar mais de perto... esta sou eu!"
Eu tive essa ilusão de que algum outrem me entenderia; que passaria a mão na minha cabeça dizendo "calma, já vai passar...". Porque meu mundo sempre foi assim: feito de ilusão. Sobre o mundo, sobre as pessoas, e ninguém me ensinou a enxergar direito, a puxar esse véu do rosto e caminhar com as próprias pernas. E eu sei, eu sei... são coisas que a maioria da gente aprende na mais tenra infância e leva instintivamente pra vida, mas existem alguns premiados - como eu - que simplesmente crescem desprovidos dessa informação e não têm nem mesmo feeling pra se safar. Daí tudo complica porque fica um déficit, um qualquer coisa que a gente ainda não aprendeu e é por isso que estamos sempre um passo atrás.
Eu tive essa ilusão de que amor bastava. De que amor fazia compreender. Não é assim.
Pessoas como eu estão sempre um passo atrás da compreensão das coisas porque as nossas dores sempre são as maiores e a nossa engenuidade também é.
Demora até a gente compreender que tudo não vai ser lindo como a gente sonhou. Dizem que isso é crescer. E a gente não sabe como. Eu não sei como. E acabei de ouvir que não existe fórmula pra isso. É esse "andar sozinho" que estou falando. Eu mal sei engatinhar! E os meus comtemporâneos já estão competindo em maratonas. E sem essa de "cada um no seu rítimo"...
Acho que perdi o foco...
Bom. O que eu ia dizendo é que... bem, talvez eu devesse ter deixado as minhas mazelas mais profundas num quartinho escuro, longe das vistas dos outros. Mas havia tanta sinceridade em mim, ao abrir meu peito, que achei realmente justo me mostrar por inteiro. Porque eu não queria me entregar pela metade. Nem pensei no resto. Nos contras. E se você não é pago pra isso, você nunca vai entender. É como eu disse antes... estou sempre um passo atrás por puro retardamento genético. Eu ainda tropeço nos meus próprios passos porque apesar de compreender melhor como as coisas funcionam hoje, ainda custo a me adequar. Porque pra mim, muita coisa ainda é dolorida.. agir como o resto do mundo ainda me dói. Ser assim desacreditado das coisas pra mim é muito ruim. E é duro porque ainda reluto a me adequar.
Eu não dei pouca importância.
Eu não deixei de cultivar...
Eu estava me esforçado ao máximo pra vencer a paralisia crônica que eu tinha só pra ir te buscar as flores mais lindas...
Só que eu estava no meio do processo. E o meu tempo é lento.
Pena esse nosso descompasso.
Se eu tivesse sorrido mais e venerado os dias alegremente, com certeza eu te faria mais feliz.
Mas seria tão falso que eu não iria aguentar.
Poderia ter sido tudo diferente...
Mas não seria verdade.
E não seria eu.
sexta-feira, 22 de julho de 2011
Filosofia de consultório...
sexta-feira, 15 de julho de 2011
domingo, 10 de julho de 2011
quinta-feira, 7 de julho de 2011
quarta-feira, 6 de julho de 2011
terça-feira, 28 de junho de 2011
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Verdades curtas
eu tenho variações extremas de sentimentos diariamente.
domingo, 19 de junho de 2011
sábado, 18 de junho de 2011
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Looking back...
O cachorro-quente que chega morno à boca por conta da ventania no trajeto de menos de 20 metros da barraquinha até o carro na noite gelada de quarta-feira empurra garganta abaixo o pesar de voltar à pequena cidade tão pouco querida.
O mais difícil mesmo é todo o trajeto: de ônibus os quilômetros parecem multiplicar-se e, a cada parada, tudo parece ainda mais distante. Dá tempo de ver um filme completo, gastar a bateria do mp4, folhear uma revista e ainda falta chão pra chegar no destino. E não tem outro jeito, você tem que concordar quando o motorista se confessa desolado em ter de entrar na bendita cidade porque você é a única passageira a descer lá e, se não fosse por isso, ele nem passaria perto de lá, “aquela cidadezinha complicada” como ele mesmo disse.
Pode parecer natural pro resto do mundo, mas essa despedida com abraços e beijos e “boa viagem” pra mim ainda é uma completa estranheza com uma pontada de desconforto. “Você tem que se desapegar desses problemas... entender que as pessoas são como são e não é por mal que elas fazem o que fazem... as coisas não vão ser sempre da forma como você imagina.”. Eu sei... eu sei! Melhor... eu deveria saber. E se soubesse, não precisaria pagar pra que alguém me dissesse isso e então eu estaria bem. Mas não é.
O diploma não está lá quando eu preciso, a entrega da documentação é complicada, a carteira de estudante não pode ser expedida... as coisas não saem como eu planejei e eu não sei lidar bem com isso. Tem sido difícil. Tem sido difícil mudar. E mudar a maneira de ver tudo isso, mais ainda.
Abri a porta daquele apartamento no sábado e chorei. E perguntei, por vezes, “por quê?” querendo gritar... tentando ouvir uma resposta que não vinha. Daí ela me abraçou e finalmente quis conversar e foi tudo da forma como eu imaginava e por um momento eu consegui me desvencilhar de todos aqueles sentimentos de raiva e rancor e pensar “meu deus, como ela está velha”... por alguns instantes ela me pareceu tão velha... e eu senti que passei anos longe e finalmente estávamos ali e ela estava, céus, tão velha... cansada, como se os nos tivessem sido muito duros com ela... como se ali também habitasse dor e, afinal, não era o que eu queria?? Que ela também sentisse dor? Essa dor que eu sinto, que me corrói, que me impede de seguir em frente e que eu não largo?? Não era isso? Céus, como estava velha... ali, naquele instante eu me perguntei se tudo seria resolvido assim, numa conversa, numa única conversa. Não, não seria assim... não vai ser. Tudo isso é um grande e maciço comprimido que vai demorar a diluir e entrar na corrente sanguínea... vai levar tempo. Aquele quarto ainda me sufoca... aquela casa ainda me suga... a presença dela e tudo mais que ela fala nos seus pequenos preconceitos diários ainda me agridem. Vai levar tempo...
Mas pisei naquela terra mineira querendo voltar. Querendo um lugar pra chamar de meu...
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Mais do mesmo...
Esses dias elas parecem ter começado a desaparecer – e rápido –, mas, pra mim, sempre vão estar lá. Nesses tempos de frio, eu puxo a manga do casaco para escrever melhor, olho pro lado e penso “o que foi que eu fiz?”. Dou uma boa olhada em todas elas ao redor do antebraço direito... são muitas e isso não me deixa esquecer do dia em que elas apareceram, feridas rasas ainda recém abertas e bem mais profundas na minha alma.
A verdade, acho, é que não quero que elas desapareçam, apesar de saber que é preciso – e natural. Toda vez que as olho, sinto a dor daquele dia, que, de certa forma, me conforta. É a hora em que consigo chorar. Dói tanto, que eu não tenho como conter, então jorra tudo em lágrimas.
“Ela tem de pagar.”
Sei que não é o pensamento que eu deveria ter e que raiva, rancor e vingança são os principais sentimentos que puxam a minha essência pro limbo, mas ainda estou num processo de evolução, não é!? E, no momento, é o que sinto.
E sinto ainda mais o fato dela não sentir a minha dor. Me rasga por dentro ela não ter dimensão do estrago que fez em mim. São os sorrisos que não consigo dar, é o prazer que não consigo sentir, a comunicação mais primária que trava só no pensar e toda uma vida que eu sinto roubada. Ela não sente... nem uma gota. E, de verdade, se eu pudesse a faria sentir, nem que fosse por alguns segundos, e isso já satisfaria esse cão faminto e raivoso dentro de mim.
É algo que eu vou ter de trabalhar sozinha... esse desapego da dor... e do rancor. É que são anos... toda uma vida vivendo assim; engolindo calada, guardando em silêncio. Não se pega tudo isso e simplesmente regogita-se, chutando pro lado tudo de ruim. Não... faz parte do que eu sou. Deixar isso livre, não sentir mais o passado desta forma é que é a questão. E estou longe disso...
Por enquanto, tudo está em processo de cicatrização. E é só o que tenho...
terça-feira, 17 de maio de 2011
quarta-feira, 11 de maio de 2011
domingo, 8 de maio de 2011
Carta resposta
(...)
Só você sentiu por mim
o que nem eu sentiria
Você foi o meu escudo
e eu a própria covardia
Se você ainda acreditar,
eu prometo dublar seu corpo
Te proteger,
te poupar das dores,
Te devolver o amor em dobro
Não se ama, amor, em vão
Foi tanta força que eu fiz por nada,
Pra tanta gente eu me dei de graça
Só pra você eu me poupei
Será que o tempo sempre disfarça,
Tomara um dia isso tudo passa
Desculpa as mágoas que eu deixei..
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Vê se morre, oras...
"Havia um tempo em que eu vivia
Um sentimento quase infantil
Havia o medo e a timidez
Todo um lado que você nunca viu"
terça-feira, 26 de abril de 2011
Sem parar
Aff... eu já esqueci o que tinha pra falar...
Os remédios me dão um pouco de tonteira as vezes..
Desorganizam minhas idéias. Não era para eles me “acalmarem” e me fazer “relaxar”??
Não to achando as teclas direito. Na verdade, as estou errando.. penso em “”n” e aperto um “r” e assim por diante.
Não durmo direito.. talvez seja o colchão. Mas o fato é esse: não durmo direito. Sonho a noite toda e acordo como se tivesse passado 12h carregando pedra de um lado pro outro. As coisas só vão melhorando lá pro meio dia e isso já é hora de almoço e, por fim, eu já perdi meio dia de vida e o que me resta vão ser passados até com distração porque terei companhia, mas no fundo... no fundo mesmo... estou sozinha. Sozinha e triste ainda aqui nesse foço fundo e escuro dentro de mim.
Preciso melhorar. Pra poder voltar logo pros braços da minha menina e pro tatame... aqui não tem tatame e isso está me deixando louca. Eu preciso lutar.
Preciso acordar mais cedo. Preciso me exercitar. Preciso de um milagre pra parar de engordar. Preciso de uma internet rápida e disponível. Preciso ajudar alguém pra me ajudar. Preciso parar de me impor tanta coisa pra ver alguma delas funcionar e eu não quero dizer que não consigo porque sei que isso é uma mensagem subliminar pro meu cérebro realmente não conseguir, mas... mas.... aaaahhhhrrr!!
Tá difícil...
sexta-feira, 15 de abril de 2011
Pontuando
Tem horas que eu preciso ficar sozinha... no phones, no family ...sozinha.
Ele agora me chama de “a garota da encruzilhada” e diz que é preciso respeitar isso... digo, a encruzilhada. E tem toda uma teoria e explicação pra isso que não cabe agora.
Às vezes o tempo voa e eu mal lembro do que fiz ontem, quanto mais semana passada... pra mim – acho que já consigo pensar nisso conscientemente – é difícil lembrar do passado, mesmo que recente. É quase constrangedor. Não porque o seja, nããão... é só a sensação sabe... de constrangimento. É algo embutido aqui dentro de que o que passou foi ruim, de que é duro lembrar; então eu esqueço. Não. Finjo que esqueço. Tento esquecer. Daí, depois, sempre fica difícil lembrar. Piloto automático que ainda não sei onde desligar, acho que é isso.
Eu me perco nos meus devaneios. As coisas sempre me rendem divagações além. A maioria das pessoas nem reflete sobre a maioria das coisas menores. E eu não. Ao contrário. Acho que é por isso que me deram licença de louco: remédios tarja-preta. [ri]
Escrever em terceira pessoa está cada vez mais difícil. Talvez porque não seja o momento. Não agora. Eu estou muito dentro, muito in. Com um texto cheio de “eus” e precisando falar de mim, precisando me encontrar. Ele diz que eu morri – bom, de certa forma isso é um alívio porque antes eu tinha dúvidas se pelo menos isto eu tinha conseguido fazer...de qualquer forma, foi involuntário: surtei, me cortei, tomei remédio, me consumi, precisei morrer e morri... e nem percebi – e só não encontrei ainda um jeito de nascer de novo. Não vi a luz. Ainda, ele diz. A Preciosa me diz que é preciso nascer várias vezes e sempre e é estranho quando um ensaio sobre pensamentos de moda e arte mais parecem um livro de autoajuda feito sob medida pra você. Ele me diz que estou em período germinatório... fetal, mas te confessar... as vezes mais parece umbral. Eu disse a ele que sentia a minha vida em suspensão e ele disse que é. Cheguei àquele consultório querendo falar, contar a vida e reclamar dela – da vida –, delimitar tudo no seu dia da semana, explicar, no meu entender, como cheguei ali, como fiquei assim e dizer que as vezes tudo me incomoda e de início me incomodou mal abrir a boca e ele lá ficar falando sem parar, mas é um negócio aqui dentro que quase quer brotar, quase... nem tem tanta vontade assim. E isso tudo vem me dizer “calma, gafanhoto... calma...”. Ele e sua filosofia zen sobre tudo. Os monges, o verdadeiro cristianismo, capitalismo-filha-da-puta, Jesus-puta-cara-legal, orientais, encruzilhadas... ele sabe o que diz. Acredita no que fala. Vivencia isso. Ou, ao menos, engana muito bem. Eu mal falo das minhas dores e ainda assim consigo me sentir bem. Fico lá, ouvindo ele falar e pensando que algumas consultas atrás eu mal conseguia levantar a cabeça e olhar pro rosto de quem quer que fosse... eu só sabia ser dor, mágoa e tristeza. Não que tenha mudado da água pro vinho. É que entrar ali... ouvir alguém enterrar os cinco dedos nas minhas feridas, remexer tudo lá dentro e ainda estar lá... não desabar... bom, já é algum avanço. Tudo isso pra dizer que não postei um post enorme semana passada que deveria realmente ter postado, mas internet por aqui é coisa rara, então acabou ficando pra trás e que tinha um pouco a ver com isso de estar difícil ser distante, ser terceira pessoa, porque estou mesmo nessa fase auto germinativa, porque to precisando nascer de novo e me parir está sendo um parto de burra e ainda é um nó na garganta essa minha condição de semi-desabrigada deslocada prum lugar que não é meu, mas que ainda assim é necessário e nem é tão ruim assim, mas com tudo isso, ainda assim não é meu. E, afinal, que lugar é esse... que será meu? Onde foi que eu me perdi de mim e perdi esse tempo tão precioso que só vou conseguir recuperar com tempo e só quando eu voltar a ser novamente? Como faz isso? Não tem pra quem gritar... sou só eu comigo mesma, brincando de esconde-esconde no umbral, que é só um ponto de vista porque podia muito bem ser um ambiente plasmo-placentário, mas eu ainda não vejo assim. To tentando.
Minhas idéias são desconexas e eu consigo passar horas falando de coisas que pra muita gente são ínfimas. Meu texto está cheio de “eus” e de “nãos” que sei que preciso resolver. Se descolar dessa forma pré-fabricada de existência e moldar outra autoral é difícil... e dói.
Eu pirei num dia em que, depois de vomitar meus monstro num consultório à trinta reais a hora, o peso do meu mundo foi demais pra mim e tudo se partiu feito implosão de prédio. Talvez porque a forma de expurgo não tenha sido satisfatória, talvez porque, apesar de ter ido procurar ajuda, a verdade é que não estava ajudando muito falar e falar e não sentir nenhum feedback. O motivo, é verdade, já não importa tanto assim, porque são muitos. O fato é que não faz muito tempo atrás eu pirei. O meu mundo quebrou porque estava pesado demais sobre as minhas costas e eu não aguentei todo aquele peso e quebrei junto com ele. Virei pó de um jeito que não deu mais pra juntar. Virei pó jogado no ventilador, em turbina de avião, espalhado pelo ar, pra todo lado, tendo que me virar com isso. Eu pirei, quebrei na forma como eu existia e tive de ir em busca de mim às cegas pra aprender a existir de outro jeito. Tudo bem, os remédios me dão um par de óculos que ainda não estão no grau certo pra minha miopia aguda, mas uma hora a gente acerta o passo. E essa história de se perder... de alucinar... de passar férias no umbral, chafurdando a própria desgraça pra curar a dor, desconstruindo esses sentidos de segurança que a gente chama de “vida” e perdendo o chão pra achar o prumo... tem gente que me diz que é bom, que é preciso, que todo mundo devia passar por isso.
Talvez não seja tão ruim assim...
domingo, 27 de março de 2011
Prontuário
A ponta da tesoura grande para tecidos passa débil e aleatória sob a pele fina fazendo o sangue brotar feito leito d‘água no alto verão do sertão... sem força, sem vontade, sem quase existir... só filetes finos que já logo vão secar. São 21 cortes no antebraço e 7 na palma da mão direita, mas nada que precise realmente de ponto ou de cuidados maiores. Na verdade, mais parecem arranhões bobos do que ferimentos sérios que mereçam atenção. Vai sarar logo, essa é que a verdade, e ninguém a chamará de suicida por isso; talvez de desesperada ou incompetente, mas suicida... não.
Fato é que a consideram covarde – ouviu isso por duas vezes no mesmo dia, e de pessoas bem distintas. Essa gente que não tem coragem, que foge pra não encarar. Essa gente que não quer ver nem ser o que se é preciso ser. Gente covarde... a chamaram assim. Não que ela ache que seja. São só os fatos. Ela acha mesmo é que ninguém nunca entendeu a sutileza de tudo. “Desde pequena a gente vem notando, neh doutor... ela entristecia, as vezes ficava muito calada..”. Então por que r ninguém fez nada?! Por quê!?! É só um grito seco e mudo na garganta... gritar pra quê? Gritar pra quem?
A tia relatou sua versão dos fatos ao médico – a única versão que conhecia porque cada um da família tinha a sua, mas guardava pra si esses assuntos velados – e ela novamente chorou em silêncio por se lembrar protagonista e testemunha ocular e não divergindo de tudo, mas sabendo que as coisas foram bem diferentes da forma como eram contadas ali naquele consultório alternativo com Shivas, incensos e Blues setentista transcendental tocando baixo. Ela lembrou. Chorou. E calou. Estava cansada de repetir a mesma história tantas vezes e, sinceramente, as memórias já começavam a se misturar. O que lembrava, da forma como lembrava, teria sido mesmo assim? Teria sido tudo exatamente daquele jeito? Era um questionamento em vão. Se havia memórias implantadas e irreais no que relatava, ninguém nunca iria saber. Nem ela. Principalmente ela, que tinha memória temporal confusa e sempre esteve sozinha nesses crimes, nesses acontecimentos banais a tantos outros olhos e que a dilaceravam de morte. Só ela viu. Só ela sentiu. Só ela corroeu a alma, sangrou por dentro e enlouqueceu de overbook. Simples assim. Aguentou o quanto pôde... até que não deu mais. Foi como encapsular os ataques em Nagasaki e Hiroshima e tomar com vodka. Boom!
Rápido assim. Como se não fosse um desastre anunciado. Como se não fosse eminente. Nada... eles só preferiram não ver.
Mas agora está aí: sangue parco seco, tremores, olhos inchados como ela nunca imaginou ser possível – tão inchados que mal a permitem enxergar – e uma incrível confusão mental que hora a sufoca com tantos pensamentos juntos e hora a consome num vazio que parece não ter fim. Ela dormiu por cansaço, e até tentou manter o controle no dia seguinte, mas se vestiu já com a mente em suspensão e perambulou pela rua sem meta... não sabe onde, sem saber porquê ou por quanto tempo... em passos curtos, vagos e ébrios. E fez pouso no espaço pouco íntimo, mas já conhecido. E se sentiu pior que antes pela incapacidade... só queria sumir. Sumir dali. Sumir de todos. Sumir de si. Mas ficou. Feito gato novo de rua maltratado, acuado e faminto que tem olhos de fome, piedade e atenção. Ficou até que todos aparecessem atordoados pela sua não-presença e lhe dessem um pouco daquilo que sempre lhe faltou: abraço apertado, olhar firme de que “vai ficar tudo bem”, olho no olho, carinho... atenção. Ficou ali até eles chegarem. E eles chegaram. E a levaram dali. E ela foi. Meio amparada, meio com as próprias pernas. E tá aí: os médicos a classificam como um típico CID10 F33:3. Diz-se “depressivo-psicótico”.
A enviaram pra longe pra que ela “se distanciasse um pouco disso tudo” enquanto se reúnem em távolas e discutem seu futuro. Ao pé que está, dizem a ela que é melhor puxar a alavanca de emergência desse trem-bala descarrilhado que se tornou seu mundo e descer na parada mais próxima; ao menos por um tempo. Mas veja bem, ao pé que está só ela parece poder tomar essa decisão e, convenhamos, é difícil abrir mão das possibilidades de oportunidades profissionais, do engajamento em estágio fraldário na faculdade, das poucas pessoas que ainda importam e do que ainda não está tão ruim assim que seja irremediável. Mesmo que a sua sanidade esteja em jogo.
Até aqui, já foram quatro entre psicólogos, psicanalistas, psiquiatras e psicoterapeutas. Três só este mês. Ela teve um overbook. Eles a classificaram como um CID10 F33:3 – um sigla; um termo médico pra não explicitar que ela enlouqueceu. Nem a deixam mais andar sozinha por aí. E enquanto nada se resolve, Equilid e Lexotan... só pra anestesiar.