domingo, 13 de janeiro de 2008

Dragão magro na pista pop

Então era a primeira noitada do ano.
Todos os comparsas haviam desistido, mas os dois... esses tinham uma inexplicável e inabalável fé de que a noite seria perfeita e tudo que pudessem adjetivar de bom e feliz aconteceria.
Horas depois, eram os dois no bar do local previamente escolhido gritando seus anseios e idéias para o novo projeto em comum que desenvolviam, tentando fazer a voz superar o alto volume das músicas pop que se espalhava por todo o Café. Tinham breves momentos de silêncio e, nesses, iam longe: hora analisavam o ambiente, hora perdiam-se em si mesmos. Mas nada que superasse a expectativa de cravar os pés na pista de dança, achar um bom espaço, ficar por lá “se acabando”. Afinal, era o que pretendiam para a noite: dançar até não agüentar mais e dar boas risadas na companhia de pessoas interessantes; se acabar, como diziam.
Por um instante acharam que não seria possível: a pouca ventilação, a pista lotada e calor excessivo não lhes permitiu conforto suficiente para permanecer ali durante muito tempo. Mais uma cerveja no balcão foi a única saída que encontram. Dois copos. Dois copos cheios e um bebendo. Um bebendo por dois. “Acho que to meio alto.”. Diante do espanto do receptor da mensagem, veio a exclamação. “É que bebi tudo isso rápido demais! E também... ah, fala sério! Eu to bebendo por mim e por você!”. Daí decorre um diálogo em inglês de frases não terminadas e uma, em especial, que plantaria a dúvida que perduraria o resto da noite. Aliás, perdura ainda hoje. Quem ouviu, não teve coragem de perguntar o que aquilo significava ou mesmo como a frase terminaria. Preferiu não alimentar os dragões famintos da mente fértil que tinha e acreditar que o locutor estava até mais “alto” do que afirmava estar.
Mudaram de assunto.
Mudaram de ambiente: voltaram pra pista. E lá tudo exalava alegria e hormônios a flor da pele. Sensações estranhas começaram a se fazer notar. Não que nunca tivesse observado os atributos do companheiro de pista, não... pelo contrário, sempre soube deles por análise própria ou por terceiros. Só evitava pensar na possibilidade de qualquer coisa além da amizade sincera que tinham porque, qualquer um há de convir, nutrir esses pensamentos não é saudável entre amigos! Mas a pele queimava mais a cada dança. O pop tem dessas coisas de deixar tudo mais... sensual e excitante. E por mais que tentasse dissipar a idéia, o corpo dizia outra coisa. Os corpos diziam outra coisa. Coisas que não devem ser ditas. Coisas que devem ser apenas...feitas. E foram. Claro, houve a relutância antes da ação. Todo aquele jogo de sedução podia estar sendo direcionado à outra pessoa e então seria um desastre a conclusão dessa história, mas lembrou-se que estavam ali para começar o ano bem e isso incluía, achou, também mais auto-confiança. Fez-se então valer dessa máxima e pediu permissão para o que ia cometer. Grande crime esse...
Lembrou-se ainda, antes de qualquer ato extremo em causa própria, de trancar bem longe das garras daqueles famintos os delírios sentimentais que cultivou até o ano anterior. Permitido àqueles monstros era agora só doses cavalares de realidade nua e crua, coisa que pouco apreciavam. Dragões loucos e sedentos…
Sabia que, posto o pé na rua, seriam, os dois, bem resolvidos quanto ao assunto se fosse assim. “Sem traumas”, foi o que pensou. Sairiam do café de alma leve, amigos ainda com a mesma intensidade, e com a sensação de missão cumprida: a primeira balada do ano foi mesmo espetacular.
E entre clássicos adolescentes dos anos 90, Madona, Village People, divas do Pop, CSS e o Bonde do Rolê dançando a Macarena enquanto o Justin Timberlake flertava com a Rihana, eles eram agora amigos selados. Se é que você me entende...

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