quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Fadiga

A conversa vagava pejoativamente no sobre o estilo de vida que as garotas vinham levando. Quem tinha a posse da palavra metia o dedo na ferida mais dolorida da ouvinte – beleza sempre lhe foi um problema: se antes não a sabia, agora a usufruía consciente e à exaustão. Do outro lado, a morena de longos cabelos sedosos retrucava certeiramente e impunha-lhe a responsabilidade de tanta mudança. “Foi você que criou esse monstro... agora não adianta reclamar!”. Não havia tréplica. Foram três anos de ensino médio insistindo na auto-confiança da menina, tendo esperança de que ela um dia enxergasse o quão bonita era, cansando-a com discursos pseudo-feministas e falando de valorização do ego. O que mais poderia dizer então? “Que puritanismo é esse? Você não era assim quanto te conheci. Você era a garota que não se importava com o que iam dizer... de quem os garotos tinham medo de falar muita coisa... ”. Da resposta à tamanha acusação, só ouvia que a idade havia chegado, que não tinha mais ânimo pra essas estripulias do coração. “Você passou a ter medo, isso sim!”. Era verdade. E não importa a seqüência de argumentos que sucederam a frase, esse era o fato maior. Ela disse a tanta gente que deveriam arriscar e dançar na ponta do precipício, que deveriam ter coragem, que o princípio de ser é acreditar que se é... e ela mesma... como uma avó de filmes americanos anos 60, sentada numa cadeira de balanço contou histórias antigas, todas com uma moral relevante pra vida – ao menos, era o que pensava –, viu todos partirem e ficou, ficou na cadeira de balanço e lembrar das mesmas histórias antigas. Assim fica parecendo que só o passado distante valeu...
Ela disse a tanta gente que deveriam arriscar e dançar na ponta do precipício, e ela mesma pouco o fez depois de alguns tombos emocionais. E mesmo quando o fez, se recusou a levar adiante. Havia sempre uma desconfiança que a parava, a fazia refletir que poderia ser igual as vezes ruins e se fosse assim, era melhor parar no começo. Verdade também que não queria mais fazer o serviço sujo sozinha. Mais um pouco e seria ela também a levar o café da manhã na cama, era só o que faltava! O galanteio, a aproximação... conclusão óbvia: se tudo partia dela era porque não havia interesse antes do esforço árduo em se fazer notar. E pra quê tanto esforço se quando finalmente o holofote ascendia acima de sua cabeça, tudo que viam era um corpo pronto para acrobacias sexuais? Entristeceu. No momento e sempre depois quando em toda vez que se dispunha a estar com alguém e o pensamento descriptava-se. Era chato quando isso acontecia... e acontecia sempre. Então ela estava lá tentando provar que dois corpos poderiam sim ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo, super entretida e, de repente, tudo que queria era sair dali... provar que o homem poderia ser sim mais ágil que a velocidade da luz e chegar ao banheiro de casa o mais rápido que pudesse, rezando pra que bucha vegetal, pasta de dentes e dedo na garganta resolvessem aquela angústia. “É só mais um... mais um que não vale a pena...”. E pensar assim nunca adiantou grandes coisas.
E era mais um. Aliás, mais uma. E isso não tem nada a ver com valer com valer à pena. Era só mais uma noite pra comemorar a sexta-feira, pra comemorar os amigos, pra dançar. Não havia pensamentos lascivos. Não havia intenção – não que ela saiba. Foi que beber demais gera carência e prováveis constrangimentos no dia seguinte. Foi que sóbria como estava, podia ter dito não. Foi que não quis pensar sobre isso e deixou aquela música mixada invadir a alma.
Só tem a ver com a pergunta que não pára de ecoar, incessante, na mente. “Por que é que você faz isso!?”. Porque chega uma hora que a gente cansa de procurar pepitas de ouro e só encontrar pedras pintas. E é só hoje que consegue pensar nisso porque na hora não houve resposta. Pode não solucionar exatamente à questão nem ser a resposta definitiva, mas já é mais que o silêncio. Quem questionou, foi além: “Mas será possível que eu vou ser a única amiga que você nunca pegou!?” A risada segue descontraindo o ambiente... “E nem adianta me jogar charme, hein!”. Estava ali, mais que uma amiga... uma irmã confidente. “É... eu acho que sim!...”

1 comentários:

Unknown disse...

qm está com os eixos fora dos eixos?
aliás, qm não está???


bjss

ps>: inúmeras e incontáveis saudades de ti!