quarta-feira, 4 de maio de 2011

Vê se morre, oras...

Sabe aqueles versos...

"Havia um tempo em que eu vivia
Um sentimento quase infantil
Havia o medo e a timidez
Todo um lado que você nunca viu"

Houve esse tempo. Mas tudo passa, não é?
O que não consigo ainda é me desvencilhar das lembranças e do sentimento de como era bom... me desligar dessa saudade que corrói, dessa falta do que não volta mais.
Eu tive amigos mais que irmãos - bom, achei que tive - que hoje mal sei quem são. Daquele tipo que quando passam hoje na rua, a gente cumprimenta com vergonha, sem saber o que falar se tiver que puxar assunto. Sinto mesmo como se eles tivessem simplesmente me deixado, me abandonado num canto qualquer do passado e ido viver suas vidas maiores sem mim, me deixando num porta-retratos, num álbum antigo do orkut que ninguém mais visita.
Eu nutri sentimentos maiores por essas pessoas e sei que, na maior parte do tempo, não demonstrei. Por medo, por timidez. Essas coisas que ninguém sabia que eu tinha. Medo... timidez. Falar alto, tocar em assuntos indelicados, não medir palavras e estar ainda assim rodeada de gente sempre foi a minha especialidade... mas os anos passam, não é? O colégio acaba. As pessoas seguem seus rumos, constroem carreiras, se ocupam de amores.
Sinto como se não tivesse feito nada disso. Como se tivesse parado no tempo e ainda estivesse lá, no pátio do colégio, no intervalo das aulas, esperando todos aparecerem com seus sorrisos despreocupados de quem não tem contas à pagar. Eu espero, espero... espero. E nada acontece. Só um vento frio que corta a alma me dizendo que é hora de ir, que ninguém vai aparecer, que, se ainda houver alguém, estão todos lá fora, depois dos muros da pós-infância e do portão que me separa da dureza de crescer. A gente cresce sozinho, não é? E crescer dói. Sei que já disse isso algumas vezes há algumas pessoas, mas é mais fácil ser sábio para os outros do que para si. Acreditar no que se diz e construir verdades sólidas, pra mim ainda é um desafio.
Por outro lado, ainda queima uma esperança débil de que eles vão voltar. E eu sei que não vão. Que sou eu que preciso ir.
A vontade que tenho é de estar frente à frente com cada um deles e dizer as verdades que nunca disse e sanar as dúvidas que até hoje me consomem. Dizer-lhes o quanto os amei, o quanto sinto a falta deles, perguntar se eles sabem disso, se têm a noção de quão grande é. Dizer a alguns que um dia os desejei e que me lembro disso até hoje com um sorriso amargo no rosto porque nunca soube da reciprocidade desse desejo e nem tive coragem de contar. A dois ou três queria mesmo perguntar "fomos mesmo amigos ou eu é que dei importância demais?" porque para mim foi sincero, eu fui sincera, mas e vocês? Vocês me foram leais, se mostraram por inteiro, me estimaram como a um irmão?
Tenho medo. Não das respostas porque é realmente curiosidade o que sinto. É só... medo. Um medo maior sobre tudo, que não consigo aplacar nem tornar suportável para que eu caminhe em direção àquela luz lá do fim da rua que é esse trilhar do crescer.
Queria coragem. E não sei sei a tenho. A impressão é de que a língua vai travar a voz no exato momento em que ela precisaria expurgar as palavras todas de uma vez só. Queria falar, queria dizer, mas fujo de certos momentos - aqueles propícios para tal - e me encolho feito concha no meu cantinho escuro, úmido e morno, onde tudo está em suspensão. Inclusive eu.
Emergir desse breu não é fácil. Não está sendo fácil. É como afundar em petróleo. É denso. Pesado. E difícil de limpar. Mas, ao mesmo tempo, existe uma segurança tão grande nessa lodosidade toda que as vezes da vontade de ficar.
Se desapegar não é fácil. Mas é ou emergir ou naufragar no demens, às margens do convívio social. E eu não quero ser uma Stela do Patrocínio do século XXI. Não quero ficar tricotando minhas loucuras com fermento dentro de um quarto branco num cercado bem longe do mundo. Eu só quero dar certo. Eu só quero achar o caminho...
Havia um tempo em que era mais fácil... em que eu vivia um sentimento quase infantil. E nessa época eu conseguia esconder todo medo e toda a timidez que havia por aqui. Mas agora... agora tudo explodiu e não dá pra juntar os cacos. Eu preciso me refazer do nada, do pó, e logo, de algum jeito. Antes que seja tarde.


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